Marc Chagall

Duas foram as razões para ter escolhido o nome Marc Chagall para o instituto cultural judaico fundado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na década de 1980: em primeiro lugar, a entidade foi criada em 1985, ano em que ocorreu o falecimento do artista. Em segundo lugar, pela importância de sua obra, que caracterizou de modo magistral a vida dos judeus na Rússia do final do século XIX e início do século XX. A iniciativa permitiu, por um lado, fazer uma homenagem ao artista e, por outro, sinalizar a importância da associação recém criada.

A vida de Marc Chagall

Chagall nasceu em 1887, na Rússia Czarista, mais precisamente no “Território do Acordo” ou “Zona Residencial” onde era permitida a residência de judeus junto com uma população local de russos cristãos. Essa “Zona Residencial” compreendia a Bielorrúsia, a Ucrânia, a Polônia e a Lituânia. A cidade em que nasceu – Vitebsk – tinha 50 mil habitantes, sendo a metade judia. Vitebsk contava com uma catedral e uma igreja rodeadas de belas casas, mas a numerosa família de Marc Chagall morava na parte pobre da cidade. Ele era o mais velho de nove filhos, entre os quais se destacava, pois falava russo ao invés de ídiche, havia tido aulas de violino e canto e começara a desenhar. Já adolescente, solicitou com muita perseverança a autorização de residência na Capital, exigida aos judeus. Em São Petersburgo, recebeu uma bolsa de estudos que lhe permitiu estudar em uma afamada escola com o pintor Leon Bakst.

Apesar de ser muito religiosa, sua família entendeu seu desejo de explorar um mundo pictórico sem limitações iconográficas, no qual a figura humana sempre está presente. Nessa época conheceu a jovem que seria sua esposa, Bella Rosenfeld.

Em 1910 chegou o momento de buscar novos horizontes: Paris. Um mês antes, Leon Bakst havia se instalado na capital francesa. Foram tempos duros, de muita pobreza, porém Marc Chagall continuou trabalhando sem parar.

 

Foi a época do descobrimento do impressionismo, do surrealismo, do cubismo e do fauvismo. Aprendeu novas técnicas, mas continuou fiel à sua maneira de pintar, retratando Vitebsk com sua catedral e igreja, junto com as casinhas de madeira, seus habitantes, porém, de uma maneira muito poética. Pode-se dizer que Marc Chagall foi um artista solitário em seu mundo de recordações e simbologias.

Na primavera de 1914, seu amigo, o poeta Apollinaire lhe consegue sua primeira exposição individual em Berlim. Chagall vê a oportunidade de visitar Rússia, sua família e Bella. Mesmo em época de guerra consegue um visto de três meses, mas chegando na Rússia fecham-se as fronteiras e ele fica ali por oito anos. É um período de muita produção e do seu casamento com Bella.

Chegou a Revolução Bolchevique e Chagall aderiu a ela com entusiasmo. Obteve o cargo de Comissário de Belas Artes em Vitebsk. Para o individualista Chagall foi difícil adaptar sua pintura às diretrizes do partido. Mudou-se para Moscou com sua mulher e filha. Logo conseguiu voltar a Paris, sua segunda Vitebsk. Em Paris, sua carreira deslanchou. Os poetas franceses elogiaram a poesia em seus trabalhos: amantes, luas, flores, o mundo circense e, sempre, Vitebsk. Na década de 1930, a atmosfera de sua obra mudou, ficou obscura e com temas judaicos, na qual a solidão se instalou. É época do nazismo, os perigos o ameaçam, seu povo e a toda Europa. Trabalhou muito com a figura de Cristo e às cores que usava soma-se o vermelho ameaçador. Os nazistas chegaram na França e Chagall mudou-se para Nova York, seu exílio durante os anos da guerra. Sua força criativa perdeu vigor, o pintor estava aflito e esgotado. Em 1944, Bella morreu de um vírus misterioso, jovem ainda. Essa grande perda no meio da guerra deixou o pintor em uma profunda depressão.

Passaram-se 25 anos de trabalho criativo e Chagall voltou a Paris em 1948. Os temas de sua obra estavam todos presentes: Vitebsk, seus personagens, os animais substituindo pessoas, os amantes, Cristo sofredor, as flores, e agora a Torre Eiffel. Mudou-se para Cap Ferrat e casou com Valentina Brodsky (Vavá). Começou a dedicar-se à gravura e são os temas bíblicos que nela predominam. Também usou esses motivos nos seus famosos vitrais tanto em sinagogas como em igrejas. Sempre ativo, descobriu com Picasso a cerâmica que usou até o fim de sua vida. Ao morrer, deixou uma obra cheia de humanidade.