O Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, uma associação sem fins lucrativos, foi criado em Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brasil) em 25 de novembro de 1985, por um grupo de intelectuais e empresários judeus, para suprir a falta de um organismo/Associação que divulgasse a cultura judaica de uma forma ampla.
Através de seu Departamento de Documentação e Memória e do Museu Nacional das Migrações Judaicas, a Associação tem como objetivos tanto favorecer o reconhecimento da identidade e o desenvolvimento de formas de expressão cultural da comunidade judaica brasileira como difundir a contribuição judaica para a cultura. Visa ainda estimular a realização de estudos e pesquisas sobre a comunidade judaica do Rio Grande do Sul e do Brasil, no que se refere às suas singularidades sociológicas e culturais, promovendo a preservação e a divulgação deste material documental. Seus princípios norteadores são a preservação da memória da coletividade judaica no Rio Grande do Sul (RS); o registro da sua presença na história deste estado, em especial a da imigração; a ênfase da contribuição dos judeus na educação, arte, ciência, esporte, comércio, serviços, indústria, serviço público e outras; a promoção do diálogo, propagando as ideias de multiculturalidade, tolerância religiosa e a luta contra o preconceito; e a divulgação dos valores éticos do judaísmo.
Na década de 1980, de forma pioneira no país, a Associação coletou 570 entrevistas de imigrantes judeus e seus descendentes, passando a colecionar uma vasta documentação e a realizar pesquisas com este material. Seu acervo tem sido sistematicamente consultado por pesquisadores nacionais e estrangeiros e constitui um importante arquivo da memória da imigração judaica no país.
O Instituto Cultural Judaico Marc Chagall é mantido por sócios e a maior parte de suas atividades funciona com o apoio de colaboradores voluntários.
Marc Chagall
Por que foi escolhido o nome Marc Chagall para o instituto cultural judaico fundado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na década de 1980? Duas foram as razões para isso: em primeiro lugar, a entidade foi criada em 1985, ano em que ocorreu o falecimento do artista e, em segundo lugar, pela importância de sua obra, que caracterizou de modo magistral a vida dos judeus na Rússia do final do século XIX e início do século XX. A iniciativa permitiu, por um lado, fazer uma homenagem ao artista e, por outro, sinalizar a importância da associação recém criada.
Marc Chagall nasceu em 1887 na Rússia Czarista, mais precisamente no “Território do Acordo” ou “Zona Residencial” onde era permitida a residência de judeus junto com uma população local de russos cristãos. Essa “Zona Residencial” compreendia a Bielorrúsia, a Ucrânia, a Polônia e a Lituânia. A cidade em que nasceu – Vitebsk – tinha 50 mil habitantes, sendo a metade judia. Vitebsk contava com uma catedral e uma igreja rodeadas de belas casas, mas a numerosa família de Marc Chagall morava na parte pobre da cidade. Ele era o mais velho de nove filhos, entre os quais se destacava, pois falava russo ao invés de ídiche, havia tido aulas de violino e canto e começara a desenhar. Já adolescente, solicitou com muita perseverança a autorização de residência na Capital, exigida aos judeus. Em São Petersburgo, recebeu uma bolsa de estudos que lhe permitiu estudar em uma afamada escola com o pintor Leon Bakst.
Apesar de ser muito religiosa, sua família entendeu seu desejo de explorar um mundo pictórico sem limitações iconográficas, no qual a figura humana sempre está presente. Nessa época conheceu a jovem que seria sua esposa, Bella Rosenfeld.
Em 1910 chegou o momento de buscar novos horizontes: Paris. Um mês antes, Leon Bakst havia se instalado na capital francesa. Foram tempos duros, de muita pobreza, porém Marc Chagall continuou trabalhando sem parar.
Foi a época do descobrimento do impressionismo, do surrealismo, do cubismo e do fauvismo. Aprendeu novas técnicas, mas continuou fiel à sua maneira de pintar, retratando Vitebsk com sua catedral e igreja, junto com as casinhas de madeira, seus habitantes, porém, de uma maneira muito poética. Pode-se dizer que Marc Chagall foi um artista solitário em seu mundo de recordações e simbologias.
Na primavera de 1914, seu amigo, o poeta Apollinaire lhe consegue sua primeira exposição individual em Berlim. Chagall vê a oportunidade de visitar Rússia, sua família e Bella. Mesmo em época de guerra consegue um visto de três meses, mas chegando na Rússia fecham-se as fronteiras e ele fica ali por oito anos. É um período de muita produção e do seu casamento com Bella.
Chegou a Revolução Bolchevique e Chagall aderiu a ela com entusiasmo. Obteve o cargo de Comissário de Belas Artes em Vitebsk. Para o individualista Chagall foi difícil adaptar sua pintura às diretrizes do partido. Mudou-se para Moscou com sua mulher e filha. Logo conseguiu voltar a Paris, sua segunda Vitebsk. Em Paris, sua carreira deslanchou. Os poetas franceses elogiaram a poesia em seus trabalhos: amantes, luas, flores, o mundo circense e, sempre, Vitebsk. Na década de 1930, a atmosfera de sua obra mudou, ficou obscura e com temas judaicos, na qual a solidão se instalou. É época do nazismo, os perigos o ameaçam, seu povo e a toda Europa. Trabalhou muito com a figura de Cristo e às cores que usava soma-se o vermelho ameaçador. Os nazistas chegaram na França e Chagall mudou-se para Nova York, seu exílio durante os anos da guerra. Sua força criativa perdeu vigor, o pintor estava aflito e esgotado. Em 1944, Bella morreu de um vírus misterioso, jovem ainda. Essa grande perda no meio da guerra deixou o pintor em uma profunda depressão.
Passaram-se 25 anos de trabalho criativo e Chagall voltou a Paris em 1948. Os temas de sua obra estavam todos presentes: Vitebsk, seus personagens, os animais substituindo pessoas, os amantes, Cristo sofredor, as flores, e agora a Torre Eiffel. Mudou-se para Cap Ferrat e casou com Valentina Brodsky (Vavá). Começou a dedicar-se à gravura e são os temas bíblicos que nela predominam. Também usou esses motivos nos seus famosos vitrais tanto em sinagogas como em igrejas. Sempre ativo, descobriu com Picasso a cerâmica que usou até o fim de sua vida. Ao morrer, deixou uma obra cheia de humanidade.
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